quarta-feira, 4 de novembro de 2015

XXXV

O tempo está parado. Tem dois dias
Que são três horas. Só existe o tédio.
Um fosso de opressão e mais-valia:
Trabalho, este cancro sem remédio.
Exânime e exangue, como um verme,
Arrasto-me a espaços pro banheiro
(Refúgio do operariado inerme
Que sofre no seu trampo o dia inteiro).
Cagar no expediente: redenção
Das horas que nos rouba o vil patrão,
Da vida alienada ao Capital.
Demoro-me; o suor me cobre a tez.
Co' esfín(c)ter eu me vingo do burguês
Na longa cagalhança vesperal.

sábado, 3 de janeiro de 2015

XXXIV - A Charles Baudelaire

Carlinhos, amigão, fizeste a única
Prestável poesia do Universo.
Um monte de imbecis sem manto ou túnica
Te cita sem saber-te nenhum verso.

Perdeste a auréola. És inda sim que todos
Maior. Tu és o deus da poesia.
Um pau no cu de toda a companhia
Dos péssimos poetas sem denodo.

Humildemente eu sigo-te, Virgílio
Moderno, deste Inferno da existência
Que só comporta Spleen, não Ideal.

Um mundo sem rigor, sem qualquer brilho
De gente burra e degenerescência
No qual não há senão Flores do Mal.







Site Meter