sábado, 4 de julho de 2020

XXXIX

A carne é triste, hélas ! E não li nem metade
Dos livros, nem vou ler, já cansei dessa porra
De livros. Quero drogas, Sodoma & Gomorra,
Me dá todos os vícios até que eu me enfade

Dos vícios. Buscarei, pois, então, santidade
Por dois dias. Depois, vá-te ao cu da cachorra,
Religião. Que qualquer um que reza se morra,
Pau no rabo do papa e no rabo do frade.

O meu tédio é mais velho que a forma soneto.
Querem ambos banir como coisa antiquada,
Inda bem que ninguém lê os críticos. Sigo

Poluindo com rima que sabe a cianeto
O papel. E o farei 'té que o meu corpo em nada
Reconverta-se, enfim, ao deitar no jazigo.

terça-feira, 31 de maio de 2016

XXXVII - Cigarro

A pólvora me faz hediondos sulcos
na boca. Mesmo assim, sigo fumando
qual chaminé. Enjambements malucos
são meus amigos. Lembras-te de quando
jurei-te nunca mais fumar cigarro?
Menti, pois tabagista sigo sendo.
"Co'a grana que gastaste nesse emendo
podias tu até comprar um carro" -
dizias. Mas compro é porra nenhuma.
O câncer logo vem e torna em nada
o quanto acreditaste ter valor.
A vida nada vale: Ummagumma.
É rima antepenúltima arranjada
num péssimo soneto sem amor.

domingo, 1 de maio de 2016

XXXVI - Nostos
Ulisses, tendo Troia destruído
E muitas provações expr'imentado
Regressa num galope desabrido
Por único propósito tomado.

Seria o fero séquito reunido
De talaricos, plúrimos qual gado?
Seria a nostalgia, que do olvido
Preserva sempre a pátria do exilado?

O afã de sua Penélope tenaz
E o reino assegurar? Rever o seu
Telêmaco, e Euricleia tão amada?

Nonada. Outra coisa voltar faz
O multiastucioso herói aqueu:
Em casa dar de novo uma cagada.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

XXXV

O tempo está parado. Tem dois dias
Que são três horas. Só existe o tédio.
Um fosso de opressão e mais-valia:
Trabalho, este cancro sem remédio.
Exânime e exangue, como um verme,
Arrasto-me a espaços pro banheiro
(Refúgio do operariado inerme
Que sofre no seu trampo o dia inteiro).
Cagar no expediente: redenção
Das horas que nos rouba o vil patrão,
Da vida alienada ao Capital.
Demoro-me; o suor me cobre a tez.
Co' esfín(c)ter eu me vingo do burguês
Na longa cagalhança vesperal.

sábado, 3 de janeiro de 2015

XXXIV - A Charles Baudelaire

Carlinhos, amigão, fizeste a única
Prestável poesia do Universo.
Um monte de imbecis sem manto ou túnica
Te cita sem saber-te nenhum verso.

Perdeste a auréola. És inda sim que todos
Maior. Tu és o deus da poesia.
Um pau no cu de toda a companhia
Dos péssimos poetas sem denodo.

Humildemente eu sigo-te, Virgílio
Moderno, deste Inferno da existência
Que só comporta Spleen, não Ideal.

Um mundo sem rigor, sem qualquer brilho
De gente burra e degenerescência
No qual não há senão Flores do Mal.







terça-feira, 30 de dezembro de 2014

XXXIII

Eu sinto que comi demais da conta.
Em breve, tal qual Júpiter troante,
Sonora, violenta e retumbante,
Virá a peidorreira de alta monta.

Amigos... ei-la aqui, que já desponta,
Das tripas vai seguindo sempre adiante,
Seguindo inexorável, incessante,
Para onde a anal bazuca minha aponta.

Oh não! Terribilíssima desdita!
Caguei-me inteiro! E não cessou o jorro
Fecal, que toma tudo e tudo inunda!

Correi pra longe, ó vós - coisa inaudita! -
Senão perecereis sem ter socorro
Sob esse rio que sai da minha bunda.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

XXXII - Manifesto Coprofágico



Ó vinde, coleguinhas, comer bosta!
A bosta é saborosa e nutritiva.
Além do mais, comer cocô ativa
As articulações; e é bom pras costas.

A vós, amigos meus, a mesa posta.
Cardápio: minhas fezes com olivas.
Comei, brindai ao meu tolosso: 'Viva!'
Jamais aceito "não" como resposta.

Assim que do acepipe delicado,
Amigos meus, tiverdes-vos fartado,
Não levanteis: é hora do pospasto!

Cocô comido, cago-o outra vez,
Pra recomê-lo à calda de xerez
Num círculo infinito, belo, vasto.

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