sexta-feira, 29 de maio de 2009

Tradução: "À une passante", de Charles Baudelaire.

Fiz uma tradução do famoso soneto do Baudelaire, A une passante. (Depois eu percebi que umas das minhas mais geniais soluções pra traduzir as rimas tinham sido insconscientemente roubadas da outra tradução que eu conhecia , mas foda-se.) Enfim, seguem o original em francês, a minha tradução marota e a tradução do outro cara (não sei de quem é):


Original:

La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet ;

Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l’ouragan
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair… puis la nuit ! — Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité ?

Ailleurs, bien loin d'ici ! trop tard ! jamais peut-être !
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais !


Minha tradução:

A ensurdecente rua em torno meu uivava.
Longa, esguia, em grande luto, dor majestosa,
Uma dama passou, de uma mão faustuosa
Que a barra e a bordadura erguia e balançava;

Nobre e ligeira, com sua perna estatual.
Eu lhe bebia, qual demente embasbacado,
Do olho, plúmbeo céu, genitor do tornado,
A doçura fascinante, o prazer letal.

Um clarão... e a noite! - fugitiva beldade
Cujo olhar renascer, de repente, me fez,
Não te verei mais eu senão na eternidade?

Alhures, bem longe e tarde! Jamais, talvez.
Pois não sei onde vais; tu ignoras mi'as vias,
Ó tu que eu teria amado! Ó tu que o sabias!


Tradução do outro cara:

A rua em torno era um frenético alarido.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão suntosa
Erguendo e sacudindo a barra do vestido.

Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e fin a.
Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia
No olhar, céu lívido onde aflora a ventania
A doçura que envolve e o prazer que assassina.

Que luz... e a noite após! - Efêmera beldade
Cujos olhos me fazem nascer outra vez,
Não mais hei de te ver senão na eternidade?

Longe daqui! Tarde demais! nunca talvez!
Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,
Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

VIII

Eu ia andando todo gaio e ledo,
Compondo algum poema aqui na mente;
Cortei caminho sob um arvoredo
Que me guardava um belo de um presente:

Tinha um cocô no meio do caminho,
No meio do caminho um coco tinha.
(E não, leitor, não era uma bostinha,
Era maior que o de um leão marinho!)

Fiquei c'o tênis todo esmerdolado.
"Caralho, musa, vai tomar no cu!",
Bradei, "te canto em todo canto e tu

Me aprontas uma destas? Mas que merda!"
E os versos que fazia, pus de lado,
Que é isso que quem canta a Bosta herda.



Dedico este ao André, que me deu a idéia da alusão ao Drummond e a rima magistral de merda/herda, way better que a merda/Thiago Lacerda em que eu tinha pensado.
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