domingo, 20 de dezembro de 2009

XI

πάντα χωρει καί ουδέν μένει*
Heráclito

Que importa quanto faça cá o homem?
Como diria o de Cinoscefale**,
Sonho de sombra é! Que quer que fale,
Estude ou faça, morre; e os vermes comem.

A bela amada por quem tu te agitas
Um dia não será que uma carcaça.***
No mundo tudo morre, tudo passa;
É tudo inútil e vão! Omnia vanitas!


Até mesmo essa pizza de palmito
De cheiro bom, de aspecto tão bonito,
Será cocô fedido, amorfo e feio.

Agora já fizeste essa cagada.
Mas nada importa! Larga os teus anseios
E vê se pede logo outra rodada.











* - "Tudo se movimenta, nada permanece."
** - Píndaro. Sim, olhei no Wikipedia pra descobrir que ele veio desse tal lugar chamado Cinoscefale.
*** - Sim, roubei isso do Baudelaire. Aproveitei e fiz um galicismo sintático idiota pra combinar.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

X

Ó vida. Ó azar. Ninguém me quer.
Ninguém me ama. Vou comer cocô.
E com Nescau. Talvez c'uma colher
Vá parecer até petit gateau.

Ó céus. Que dor estou sentindo no
Meu peito por não ter ninguém ao lado.
Eu sinto-me qual se Átila, o Huno,
Tivesse-me co'a lança trespassado.

Meu Deus, como essa coisa ficou gay!
Mas que merda de quartetos eu fiz?
Não os compus; eu antes os caguei.

Melhor jogar 'sa porra na privada
Com todos os meus versos pueris
E nunca mais tentar escrever nada.














segunda-feira, 3 de agosto de 2009

IX - Nel Mezzo del cocô

Olavo Bilac, poeta parnasiano, autor do Hino da Bandeira e um dos responsáveis pelo alistamento militar obrigatório (filho da puta!), tomou emprestadas, para nomear um de seus mais famosos sonetos, as primeiras palavras da Divina Comédia, de Dante Alighieri:

Nel mezzo del camin de nostra vita
mi ritrovai in una selva oscura
ché la diritta via era smarrita.

A meio caminhar de nossa vida
fui me encontrar em uma selva escura:
estava a reta minha via perdida

(Tradução de Italo Eugênio Mauro.)

Nel mezzo del camin de sua vida (meia-idade), Dante se encontra em uma selva oscura (um desvio da virtude/moral cristã), estando a sua diritta via smarrita. (Razão pela qual ele empreende a viagem metafísica marota pelo Inferno/Purgatório, espécie de alegoria da ascenção espiritual, até encontrar, no Paraíso, sua musa Beatrice, uma mulher que ele viu duas vezes na vida quando era criança. Tsc, tsc.) Vamos para o Bilac:


Nel mezzo del camim...

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

É um soneto do caralho, sem dúvida. Os parnasianos podem ser frequentemente um pé no saco com aquele tecnicismo estéril, mas o Bilac tem alguns poemas muito bons, entre os quais este clássico. No entanto, não consigo refrear meus instintos escatológicos de destruir as grandes realizações estéticas da humanidade. Eu tinha que destruir este poema também. E ei-lo, na sua versão fecalizada:


Nel mezzo del cocô

Caguei. Cagaste. Comeras rabada
E também rabada comido eu tinha.
(Além do feijão, pão de queijo, empada,
Sorvete, filé, pudim, dobradinha.)

Ah, cagas tão cheiroso, ó minha amada!
Florais eflúvios vêm da tua bundinha
Com cheiro do Parnaso! De alvorada!
De bala de hortelã! Cravo e salsinha!

Mas (oh) eis que a privada está entupida!
Aperto a descarga, a merda não desce;
Ri-se de nós, escarninha, a bandida!

Monoftalmo gigante, Polifemo
Fecal! Por favor, atende-me as preces!
Sai pelo cano, tolosso do Demo!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Tradução: "À une passante", de Charles Baudelaire.

Fiz uma tradução do famoso soneto do Baudelaire, A une passante. (Depois eu percebi que umas das minhas mais geniais soluções pra traduzir as rimas tinham sido insconscientemente roubadas da outra tradução que eu conhecia , mas foda-se.) Enfim, seguem o original em francês, a minha tradução marota e a tradução do outro cara (não sei de quem é):


Original:

La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet ;

Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l’ouragan
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair… puis la nuit ! — Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité ?

Ailleurs, bien loin d'ici ! trop tard ! jamais peut-être !
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais !


Minha tradução:

A ensurdecente rua em torno meu uivava.
Longa, esguia, em grande luto, dor majestosa,
Uma dama passou, de uma mão faustuosa
Que a barra e a bordadura erguia e balançava;

Nobre e ligeira, com sua perna estatual.
Eu lhe bebia, qual demente embasbacado,
Do olho, plúmbeo céu, genitor do tornado,
A doçura fascinante, o prazer letal.

Um clarão... e a noite! - fugitiva beldade
Cujo olhar renascer, de repente, me fez,
Não te verei mais eu senão na eternidade?

Alhures, bem longe e tarde! Jamais, talvez.
Pois não sei onde vais; tu ignoras mi'as vias,
Ó tu que eu teria amado! Ó tu que o sabias!


Tradução do outro cara:

A rua em torno era um frenético alarido.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão suntosa
Erguendo e sacudindo a barra do vestido.

Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e fin a.
Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia
No olhar, céu lívido onde aflora a ventania
A doçura que envolve e o prazer que assassina.

Que luz... e a noite após! - Efêmera beldade
Cujos olhos me fazem nascer outra vez,
Não mais hei de te ver senão na eternidade?

Longe daqui! Tarde demais! nunca talvez!
Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,
Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

VIII

Eu ia andando todo gaio e ledo,
Compondo algum poema aqui na mente;
Cortei caminho sob um arvoredo
Que me guardava um belo de um presente:

Tinha um cocô no meio do caminho,
No meio do caminho um coco tinha.
(E não, leitor, não era uma bostinha,
Era maior que o de um leão marinho!)

Fiquei c'o tênis todo esmerdolado.
"Caralho, musa, vai tomar no cu!",
Bradei, "te canto em todo canto e tu

Me aprontas uma destas? Mas que merda!"
E os versos que fazia, pus de lado,
Que é isso que quem canta a Bosta herda.



Dedico este ao André, que me deu a idéia da alusão ao Drummond e a rima magistral de merda/herda, way better que a merda/Thiago Lacerda em que eu tinha pensado.

quarta-feira, 25 de março de 2009

VII

Estava Newton a cagar um dia
- A história da maçã não é verdade! -
E, vendo que o cocô pra baixo ia,
Depreendeu as leis da gravidade.

Beethoven, gênio inquieto, quase insano,
Estava ao seu cocô dando um deslize
Quando saiu correndo pro piano
Sem nem limpar-se e compôs "Für Elise".

Até Rodin, o famoso escultor,
Mimetizou a hora de cagar,
Que tanto inspira, no seu "Pensador".

Pois tudo quanto é saber e pensar;
Ciência e arte; e tudo quanto é fino
Tem muito a agradecer ao intestino.

domingo, 22 de março de 2009

VI

Era uma manhã de abril.
Eu fiz um cocô tão lindo!
(Parecia do buril
de Michelangelo vindo.)

Tão simétrico e assente!
Foi minha obra-prima mor.
Parecia um presidente
Lá do monte Rãchimor.

Tirei foto, pus em fita;
Tatuei no meu pescoço,
Desenhei até no teto.

Quando em casa vem visita,
Sempre mostro esse tolosso
Que herdarão de mim meus netos.

sexta-feira, 20 de março de 2009

V

Não tenho amigos, não tenho dinheiro,
Eu sou um pária, um ninguém, um bufão.
Tudo o que tenho está neste banheiro
Com azulejos de cor de salmão.

Cá passo dezesseis horas por dia
- É minha Arcádia dois-metros-por-três -
A compor odes, hinos, elegias,
E esses sonetos que ora, leitor, lês.

Lá minha vida já não tem sentido:
Sem excremento, o prazer não existe
- É tudo caos, tudo frio, tudo triste.

Cá, no banheiro, me sinto acolhido.
Viva a privada, melhor que qualquer
Homem, cachorro, boneca ou mulher.

terça-feira, 17 de março de 2009

In memoriam

Hoje vim aqui ligar a Internerds para entorpecer um pouco meu cérebro e descubro que o maior ícone tupiniquim da pederastia televisiva foi pro saco! Já era, vestiu o paletó de madeira, foi ver a grama crescer do outro lado; faleceu, morreu... enfim, como preferirem. Clodovil est mort, mesdames et messieurs. E não virou purpurina.

Senti-me na obrigação, como grande poeta e homem sensível das letras que sou, quase um Victor Hugo brasileiro, de escrever um sonetinho In memoriam, um requiem poético para esse grande ícone que nos deixará saudade. Segue o poema:

O seu Clodovil morreu!
Morreu o seu Clodovil!
(Antes ele do que eu.
Foi pra puta que pariu.)

Morreu Clodovil Hernandes:
Com o seu corpo sem vida
Vão fazer carne moída
E distribuir nos Andes.

Vai feder no seu esquife,
Virar comida de verme,
Nunca mais abrir o olho.

(Também vou querer um bife
Feito do seu corpo inerme
E cozinhar com repolho.)


-x-

Vai-te em paz, Clô, velho saravá!

quinta-feira, 12 de março de 2009

IV

Estava eu versejando na privada
E compunha um soneto muito belo.
- Que rimas, que linguagem apurada! -
Até Camões ficava no chinelo.

Pus no papel dois ótimos quartetos;
Depois veio um terceto do caralho.
"Mas três versinhos cá no papel meto",
Pensei, "e terei um soneto infalho."


Mas, Oh, vida! Oh, azar! Não me foi dado
Por Musa terminar a poesia!
(Mesmo sentado lá por todo o dia...)

Fiquei sem meu soneto e todo assado.
Não consegui sequer limpar a bunda.
Em meu peito terrível dor abunda.

terça-feira, 3 de março de 2009

III

Melhor hora não há para a escrita
Que a do sacrossantíssimo excremento:
Érato acode, mal no trono sento,
E versos quintessenciais me dita.

Homero, ao escrever sobre a iracunda
Vida de Aquiles, 'tava no banheiro;
Virgílio, sobre o romano primeiro,
Compôs versos quando limpava a bunda.

Todo grande versejador além
De alguém que escreve, é alguém que muito excreta.
Eram assim Petrarca, Byron, Dante...

Saibas, leitor, que o dom de escrever bem,
De versejar... enfim, de ser poeta
Resume-se a evacuar bastante.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

II

Cagar é algo muito interessante,
Cagar é a coisa mais legal que existe.
Ontem caguei uma peça de Liszt;
Hoje caguei um poema de Dante.

Nesta vida terrena não há nada
Que se lhe possa comparar, oh não!
Nenhum prazer, arte ou amor é tão
Satisfatório quanto uma cagada.

Vaguei, vaguei, vaguei por todo canto
Sem, no entanto, encontrar felicidade;
(Em coisas muitas, em prazeres vários!)

Até que encontrei cá meu acalanto!
Não há nada melhor, eis a verdade,
Que um confortável vaso sanitário.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Textículo

Andava como se quisesse sorver tudo aquilo: os sorrisos, a música, a sublime impalpabilidade etérea, quase onírica, daquela noite crivada de luzes. De repente teve um alumbramento: tudo - não só aquele instante, mas todos quanto vivera, isso sim! -, tudo era um mero prelúdio para a sinfonia que se haveria de tocar; era o primeiro verso do soneto; era o primeiro raio de luz que violava o negrume impúbere da noite, anunciando uma nova e esplêndida aurora
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