quarta-feira, 25 de março de 2009

VII

Estava Newton a cagar um dia
- A história da maçã não é verdade! -
E, vendo que o cocô pra baixo ia,
Depreendeu as leis da gravidade.

Beethoven, gênio inquieto, quase insano,
Estava ao seu cocô dando um deslize
Quando saiu correndo pro piano
Sem nem limpar-se e compôs "Für Elise".

Até Rodin, o famoso escultor,
Mimetizou a hora de cagar,
Que tanto inspira, no seu "Pensador".

Pois tudo quanto é saber e pensar;
Ciência e arte; e tudo quanto é fino
Tem muito a agradecer ao intestino.

domingo, 22 de março de 2009

VI

Era uma manhã de abril.
Eu fiz um cocô tão lindo!
(Parecia do buril
de Michelangelo vindo.)

Tão simétrico e assente!
Foi minha obra-prima mor.
Parecia um presidente
Lá do monte Rãchimor.

Tirei foto, pus em fita;
Tatuei no meu pescoço,
Desenhei até no teto.

Quando em casa vem visita,
Sempre mostro esse tolosso
Que herdarão de mim meus netos.

sexta-feira, 20 de março de 2009

V

Não tenho amigos, não tenho dinheiro,
Eu sou um pária, um ninguém, um bufão.
Tudo o que tenho está neste banheiro
Com azulejos de cor de salmão.

Cá passo dezesseis horas por dia
- É minha Arcádia dois-metros-por-três -
A compor odes, hinos, elegias,
E esses sonetos que ora, leitor, lês.

Lá minha vida já não tem sentido:
Sem excremento, o prazer não existe
- É tudo caos, tudo frio, tudo triste.

Cá, no banheiro, me sinto acolhido.
Viva a privada, melhor que qualquer
Homem, cachorro, boneca ou mulher.

terça-feira, 17 de março de 2009

In memoriam

Hoje vim aqui ligar a Internerds para entorpecer um pouco meu cérebro e descubro que o maior ícone tupiniquim da pederastia televisiva foi pro saco! Já era, vestiu o paletó de madeira, foi ver a grama crescer do outro lado; faleceu, morreu... enfim, como preferirem. Clodovil est mort, mesdames et messieurs. E não virou purpurina.

Senti-me na obrigação, como grande poeta e homem sensível das letras que sou, quase um Victor Hugo brasileiro, de escrever um sonetinho In memoriam, um requiem poético para esse grande ícone que nos deixará saudade. Segue o poema:

O seu Clodovil morreu!
Morreu o seu Clodovil!
(Antes ele do que eu.
Foi pra puta que pariu.)

Morreu Clodovil Hernandes:
Com o seu corpo sem vida
Vão fazer carne moída
E distribuir nos Andes.

Vai feder no seu esquife,
Virar comida de verme,
Nunca mais abrir o olho.

(Também vou querer um bife
Feito do seu corpo inerme
E cozinhar com repolho.)


-x-

Vai-te em paz, Clô, velho saravá!

quinta-feira, 12 de março de 2009

IV

Estava eu versejando na privada
E compunha um soneto muito belo.
- Que rimas, que linguagem apurada! -
Até Camões ficava no chinelo.

Pus no papel dois ótimos quartetos;
Depois veio um terceto do caralho.
"Mas três versinhos cá no papel meto",
Pensei, "e terei um soneto infalho."


Mas, Oh, vida! Oh, azar! Não me foi dado
Por Musa terminar a poesia!
(Mesmo sentado lá por todo o dia...)

Fiquei sem meu soneto e todo assado.
Não consegui sequer limpar a bunda.
Em meu peito terrível dor abunda.

terça-feira, 3 de março de 2009

III

Melhor hora não há para a escrita
Que a do sacrossantíssimo excremento:
Érato acode, mal no trono sento,
E versos quintessenciais me dita.

Homero, ao escrever sobre a iracunda
Vida de Aquiles, 'tava no banheiro;
Virgílio, sobre o romano primeiro,
Compôs versos quando limpava a bunda.

Todo grande versejador além
De alguém que escreve, é alguém que muito excreta.
Eram assim Petrarca, Byron, Dante...

Saibas, leitor, que o dom de escrever bem,
De versejar... enfim, de ser poeta
Resume-se a evacuar bastante.
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