segunda-feira, 3 de agosto de 2009

IX - Nel Mezzo del cocô

Olavo Bilac, poeta parnasiano, autor do Hino da Bandeira e um dos responsáveis pelo alistamento militar obrigatório (filho da puta!), tomou emprestadas, para nomear um de seus mais famosos sonetos, as primeiras palavras da Divina Comédia, de Dante Alighieri:

Nel mezzo del camin de nostra vita
mi ritrovai in una selva oscura
ché la diritta via era smarrita.

A meio caminhar de nossa vida
fui me encontrar em uma selva escura:
estava a reta minha via perdida

(Tradução de Italo Eugênio Mauro.)

Nel mezzo del camin de sua vida (meia-idade), Dante se encontra em uma selva oscura (um desvio da virtude/moral cristã), estando a sua diritta via smarrita. (Razão pela qual ele empreende a viagem metafísica marota pelo Inferno/Purgatório, espécie de alegoria da ascenção espiritual, até encontrar, no Paraíso, sua musa Beatrice, uma mulher que ele viu duas vezes na vida quando era criança. Tsc, tsc.) Vamos para o Bilac:


Nel mezzo del camim...

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

É um soneto do caralho, sem dúvida. Os parnasianos podem ser frequentemente um pé no saco com aquele tecnicismo estéril, mas o Bilac tem alguns poemas muito bons, entre os quais este clássico. No entanto, não consigo refrear meus instintos escatológicos de destruir as grandes realizações estéticas da humanidade. Eu tinha que destruir este poema também. E ei-lo, na sua versão fecalizada:


Nel mezzo del cocô

Caguei. Cagaste. Comeras rabada
E também rabada comido eu tinha.
(Além do feijão, pão de queijo, empada,
Sorvete, filé, pudim, dobradinha.)

Ah, cagas tão cheiroso, ó minha amada!
Florais eflúvios vêm da tua bundinha
Com cheiro do Parnaso! De alvorada!
De bala de hortelã! Cravo e salsinha!

Mas (oh) eis que a privada está entupida!
Aperto a descarga, a merda não desce;
Ri-se de nós, escarninha, a bandida!

Monoftalmo gigante, Polifemo
Fecal! Por favor, atende-me as preces!
Sai pelo cano, tolosso do Demo!
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